quarta-feira, 16 de março de 2011

Não tenho mais os olhos de menina


"Não tenho mais os olhos de menina. nem corpo adolescente (...)
O que te posso dar é mais que tudo o que perdi: dou-te os meus ganhos. A maturidade que consegue rir quando em outros tempos choraria, busca te agradar quando antigamente quereria apenas ser amada.Posso dar-te muito mais do que beleza e juventude agora: esses dourados anos me ensinaram a amar melhor, com mais paciência e não menos ardor, a entender-te se precisas, a aguardar-te quando vais, a dar-te regaço de amante e colo de amiga, e sobretudo força — que vem do aprendizado.Isso posso te dar: um mar antigo e confiável cujas marés — mesmo se fogem — retornam, cujas correntes ocultas não levam destroços mas o sonho interminável das sereias." 


Lya Luft é uma poeta de delicadeza extrema. E diz, como eu nunca conseguiria dizer estas palavras tão doces e tão precisas. Palavras que usaria se resolvesse fazer um anúncio de mim mesma. Estamparia este poema em grandes letras. Porque sei, e sinto, que com o passar do tempo temos muitas perdas. Mas jamais abriria mão dos ganhos. Porque me sinto agora mais segura, mais capaz de esperar e de ouvir, mais intensa e mais terna. E esta imensa ternura precisa transbordar para que não seque a fonte, para que não fique amarga, para que se possa expandir sempre e aquecer o inverno que promete ser frio. Assim se ousasse, poria um grande anúncio em muitos jornais: Não tenho mais os olhos de menina...