segunda-feira, 27 de setembro de 2010

There will always be a "lie" in believe
an "over "in lover
an "end"in friends
an "us"in trust
and an ïf"in life

Poema: uma teoria do afeto

afeto: sentimento quieto

hábito completo por um preço espasmódico

arco aberto (não abrupto)

contato difuso

fato grosso

gasosa polpa

(semper pulpa)

o carinho amortecido da distância

a infância amolecida de um desejo

o bocejo envaidecido de um gracejo

e vir e ver nas mãos o espesso o grave o sorrateiro:

a coceira engalanada

o gesto cortês

derradeiro? o afeto não termina por não haver peito

certeiro, espera o dia sem brilho de um sol vermelho

comete a loucura de não se preocupar mais em saber:

o afeto

anima sem rima um prisma (a sina)

que se ilumina:

síncope de luz divina

Orlando Lopes

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Primavera

Torne-se Oceano




"Diz-se que, mesmo antes de um rio cair
no oceano, ele treme de medo.
Olha para trás, para toda a jornada:
os cumes, as montanhas, o longo
caminho sinuoso através das florestas,
através dos povoados, e vê à sua
frente um oceano tão vasto,que entrar nele
nada mais é que desaparecer
para sempre.

Mas não há outra maneira. O rio não
pode voltar. Ninguém pode voltar.
Voltar é impossível na existência. Você pode
apenas ir em frente.
O rio precisa se arriscar
e entrar no oceano.
E somente quando ele entra no
oceano é que o medo desaparece.
Porque apenas então o rio saberá
que não se trata de desaparecer no
oceano, mas tornar-se oceano.

Por um lado é desaparecimento,
e por outro lado é renascimento.
Assim somos nós. Voltar é impossível
na existência.
Você pode ir em frente e se arriscar:
Torne-se OCEANO!"

"A mente que se abre a uma nova idéia
jamais voltará ao seu tamanho".


Albert Einstein
foto Rachel Lee Fox

sábado, 18 de setembro de 2010


"O passado é mentira.

Metade é feita de coisas não passadas.
A outra metade é feita de coisas que nunca passarão."
Mia Couto

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Felicidade

Tão cedo que ainda é escuro lá fora.
Estou perto da janela com o café
e tudo aquilo que sempre a essa hora
nos passa pela mente.

Quando vejo o rapaz e seu amigo
subindo a rua para entregar o jornal.

Eles usam bonés e agasalhos,
e um deles traz uma sacola nas costas.
Estão tão felizes
que nem sequer conversam, os rapazes.

Acho que, se pudessem, estariam até
de braços dados.
É de manhã bem cedo
e os dois caminham lado a lado.

Eles vêm vindo, lentamente.
O céu está se iluminando,
embora a lua ainda paire sobre as águas.

Tanta beleza que por um instante
a morte e a ambição, até o amor,
não se intrometem nisso.

Felicidade. Ela vem
inesperadamente. E vai além, na verdade,
de qualquer discurso sonolento.

Raymond Carver

domingo, 12 de setembro de 2010



por vezes as noites duram meses

E por vezes os meses oceanos

E por vezes os braços que apertamos

nunca mais são os mesmos E por vezes


encontramos de nós em poucos meses

o que a noite nos fez em muitos anos

E por vezes fingimos que lembramos

E por vezes lembramos que por vezes


ao tomarmos o gosto aos oceanos

só o sarro das noites não dos meses

lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos


E por vezes por vezes ah por vezes

num segundo se envolam tantos anos

David Mourão-Ferreira

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

“Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo


“Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo.”

Hermann Hesse