segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Sim, é possível um belo recomeço
virar tudo do avesso
do eixo
do eu
do oco
roer o osso
lamber os beiços beijos becos
ser bom a beça
viver no precipício isso isso isso
quem gosta de abismo
tem que ter asas

Tania Campos

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Contar é muito dificultoso. Não pelos anos que já se passaram.Mas pela astúcia que têm certas coisas passadas de fazer balancê, de se remexerem dos lugares. A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos; uns com outros acho que nem se misturam (...) Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo coisas de rasa importância. Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras de recente data. Toda saudade é uma espécie de velhice. Talvez, então, a melhor coisa seria contar a infância não como um filme em que a vida acontece no tempo, uma coisa depois da outra, na ordem certa, sendo essa conexão que lhe dá sentido, meio e fim, mas como um álbum de retratos, cada um completo em si mesmo, cada um contendo o sentido inteiro.Talvez esse seja o jeito de escrever sobre a alma em cuja memória se encontram as coisas eternas, que permanecem...
(Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas.)

terça-feira, 25 de janeiro de 2011


"Quanto temos que chorar
para fazer boiar de novo
barcos à deriva?"


Njabulo S. Ndebele

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Condições Atmosféricas

A noite permanece triste
no suburbio
Os animais humanizam os
cartões de propaganda
É de metal a passagem dos meses

Pouco sabemos 
do tempo vindouro
As nevoas
movimentam-se entre guindastes

tão indelicado 
a chuva
fora de hora...

Fernando Paixão
photo: pessoasnapessoa 






segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Poética


Sem autoria e sem versos a poesia
será encontrada na pedra
no rosto e na copa 
das árvores ensimesmadas

sinal
da sina
cor nos azulejos

o abraço das palavras
renova a presença das portas
e janelas de uma casa

A poesia sim
se presta a prosa da vida

invisível porcelana

Fernando Paixão
photo: PessoasnaPessoa