segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Familiaridades


Lembra de imediato falta de cerimônia e formalismo, leituras truncadas da intimidade implícita.
Um pacto na verdade estabelecido por relações e laços desde o nascimento ou adquiridos ao longo de uma vida.
Na maioria das vezes esquecemos que a familiaridade “permite" que se fale muito, que se façam até mesmo ataques mortais através das palavras ou, que encontrem a compreensão no vácuo do seu silêncio , mas...não conversamos.
Nossas crenças cristalizadas não distinguem a invasão, e os diversos níveis de solidão de cada um que nos cerca.
Mas conversar... é amar, trocar... por mais incômoda e difícil que seja não consiste absolutamente em exaurir a paciência do seu interlocutor seja ele quem for e de que forma for.
Apesar de muitas vezes sufocante, pode vir a ser um se jogar sem rede, contar apenas com o compromisso do afeto, e a segurança , de que alguém além de você , estará lá para ajudar, ainda que as afinidades nem sempre estejam na pauta dos acontecimentos.
Conexões , fortes ou fracas, eternas ou acabadas, novas e revisitadas, em relacionamentos toda a gentileza é pouca, nem toda forma de autodefesa é válida, e grandes revelações muitas vezes perdem seu sentido.
Temos que lembrar sempre a necessidade de cada um preservar seu espaço, suas singularidades e esperar o devido respeito por elas.
Cartografar as relações com generosidade, um gestual sensível, tecer com elas um cerimonial em que a distância permitida e percebida possa ser a premissa de que amores dêem certo, e discussões sejam compostas de bons argumentos.
Buscar sempre a arte dos abraços sinceros, dar liberdade aos movimentos em todos os nossos momentos, manter firmes porém fluídas fronteiras entre apego e a invasão.
E me dou conta que nesse momento acabou por ser essa a minha “utopia de convivência."
Patrícia Pessoa