sexta-feira, 30 de julho de 2010

Mude

O mais importante é a mudança.
Porque se você tem mais medo da mudança do que da desgraça,
você não impede a desgraça.
A mudança, o movimento, o dinamismo, a energia...
só o que está morto não muda.


Edson Marques

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Os três mal-amados

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato
O amor comeu meus cartões de visita
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minha dieta
O amor comeu todos os meu livros de poesia
O amor comeu meu Estado, minha cidade
O amor comeu minha paz, minha guerra, meu dia e minha noite
Meu inverno, meu verão
Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça
O meu medo da morte
João Cabral de Melo Neto

LISTA DE PREFERÊNCIAS



Alegrias, as desmedidas.
Dores, as não curtidas.
Casos, os inconcebíveis.
Conselhos, os inexeqüíveis.
Meninas, as veras.
Mulheres, insinceras.
Orgasmos, os múltiplos.
Ódios, os mútuos.
Domicílios, os passageiros.
Adeuses, os bem ligeiros.
Artes, as não rentáveis.
Professores, os enterráveis.
Prazeres, os transparentes.
Projetos, os contingentes.
Inimigos, os delicados.
Amigos, os estouvados.
Cores, o rubro.
Meses, outubro.
Elementos, os fogos.
Divindades, o logos.
Vidas, as espontâneas.
Mortes, as instantâneas.

Bertolt Brecht

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Win Wenders - Tão Longe Tão Perto



Eu só faço travessura com as palavras.
Não sei nem me pular quanto mais obstáculos."

Manoel de Barros

terça-feira, 13 de julho de 2010



"Ama-se aquilo que se cruza, mulher,
paisagem, caminho, ou porque evoca emoções sabidas ou porque é novo e vem casar com a busca(...)"

Ruy Duarte Carvalho

segunda-feira, 12 de julho de 2010



"... fazendo da distância percurso e da saudade motivação, com a vontade clara de (lá) chegar para ir dar notícias ou dizer da vida... - cidade dos tempos complicados no stress do dia a dia em caos e poeira acelerada com buzinas de atrazar todos os compromissos..., uma estrada!, dei comigo a pensar no que via ( e o que via me emocionava por força de ser realmente bela), e também no que imaginava como conceito, estrada simbólica de passagem e ida, e regresso, poesia da vida em permissividade constante, de dia ao sol, ao fim de tarde, com os olhos marejados de brilhos encarnados, ou mesmo de noite como aconteceu tantas vezes, em chuva e encantamento..."
Ondjaki

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Uma arte

A arte de perder não tarda aprender;
tantas coisas parecem feitas com o molde
da perda que o perdê-las não traz desastre.

Perca algo a cada dia. Aceita o susto
de perder chaves, e a hora passada embalde.
A arte de perder não tarda aprender.

Pratica perder mais rápido mil coisas mais:
lugares, nomes, onde pensaste de férias
ir. Nenhuma perda trará desastre.

Perdi o relógio de minha mãe. A última,
ou a penúltima, de minhas casas queridas
foi-se. Não tarda aprender, a arte de perder.

Perdi duas cidades, eram deliciosas. E,
pior, alguns reinos que tive, dois rios, um
continente. Sinto sua falta, nenhum desastre.

- Mesmo perder-te a ti (a voz que ria, um ente
amado), mentir não posso. É evidente:
a arte de perder muito não tarda aprender,
embora a perda - (escreva tudo!) - lembre desastre.

Elizabeth Bishop

quinta-feira, 1 de julho de 2010



...O correr da vida embrulha tudo; a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. Ser capaz de ficar alegre e mais alegre no meio da alegria, e ainda mais alegre no meio da tristeza....


Guimarães Rosa