terça-feira, 27 de outubro de 2009

Saudades!


Foi uma ilusão
Uma insensatez
Há que pôr o chão
Nos pés

Era como um trem
Que anda sem passar
Era um tempo sem
Lugar

Era uma ilusão
No interior
De uma outra ilusão
Maior

Tudo é uma ilusão
Os que estão aqui
Esses não estão
Em si

Do universo, o além
Faunos ou mortais
Vão restar mais nem
Sinais

Tudo o que se vê
É o sonho de algum
Pobre sonhador
Todas as estrelas
Todas as misérias
Todos os desejos
Tudo o que se viu
tudo o que se foi

Última ilusão
Amanhece já
Vai-se abrir o chão
Quiçá

A ilusão se esvai
É uma cena só
E a cortina cai
Sem dó

Vai cessar o som
A sessão já foi
Despertar é bom
Mas dói

Pedras vão rolar
Choram serviçais
Vão se espatifar
Vitrais
Tomba o refletor
Ardem camarins
Cai no bastidor
A atriz

Descarrila o trem
O pilar cedeu
Vai morrer meu bem
E eu

Num jardim fugaz
De espirais sem fim
Eu corria atrás
De mim

O homem se distrai
Dorme em boa fé
Sua sombra sai
A pé

Mas
Foi uma ilusão
Uma insensatez
Há que pôr o chão
Nos pés
Chico Buarque -Edu Lobo







Um comentário:

Márcia Gregori disse...

Querida Patrícia Tiça (você perguntou à numeróloga se Patrícia Tiça era uma boa combinação? Pergunta, pois acho que é um bom nome...),

voltando à nossa Moara, achei que o tempo ajudaria nessa aceitação do inaceitável, mas está ficando cada vez mais difícil imaginar essa ausência tão enorme. As lembranças ainda estão muito vivas (ouço a voz, vejo gestos, rastros de cor). Não consigo acreditar que ela quisesse mesmo ir. Fico cada vez mais certa de que ainda não era hora. Queria muito que o final do meu texto fosse o final dessa história...

Beijos grandes,

Márcia