Foi uma ilusão
Uma insensatez
Há que pôr o chão
Nos pés
Era como um trem
Que anda sem passar
Era um tempo sem
Lugar
Era uma ilusão
No interior
De uma outra ilusão
Maior
Tudo é uma ilusão
Os que estão aqui
Esses não estão
Em si
Do universo, o além
Faunos ou mortais
Vão restar mais nem
Sinais
Tudo o que se vê
É o sonho de algum
Pobre sonhador
Todas as estrelas
Todas as misérias
Todos os desejos
Tudo o que se viu
tudo o que se foi
Última ilusão
Amanhece já
Vai-se abrir o chão
Quiçá
A ilusão se esvai
É uma cena só
E a cortina cai
Sem dó
Vai cessar o som
A sessão já foi
Despertar é bom
Mas dói
Pedras vão rolar
Choram serviçais
Vão se espatifar
Vitrais
Tomba o refletor
Ardem camarins
Cai no bastidor
A atriz
Descarrila o trem
O pilar cedeu
Vai morrer meu bem
E eu
Num jardim fugaz
De espirais sem fim
Eu corria atrás
De mim
O homem se distrai
Dorme em boa fé
Sua sombra sai
A pé
Mas
Foi uma ilusão
Uma insensatez
Há que pôr o chão
Nos pés
Chico Buarque -Edu Lobo
Um comentário:
Querida Patrícia Tiça (você perguntou à numeróloga se Patrícia Tiça era uma boa combinação? Pergunta, pois acho que é um bom nome...),
voltando à nossa Moara, achei que o tempo ajudaria nessa aceitação do inaceitável, mas está ficando cada vez mais difícil imaginar essa ausência tão enorme. As lembranças ainda estão muito vivas (ouço a voz, vejo gestos, rastros de cor). Não consigo acreditar que ela quisesse mesmo ir. Fico cada vez mais certa de que ainda não era hora. Queria muito que o final do meu texto fosse o final dessa história...
Beijos grandes,
Márcia
Postar um comentário