Imóvel no tráfego de São Paulo, turvam minha visão não só a tempestade que desaba violenta escorrendo pelo pára-brisa do carro como as abundantes lágrimas que me escapam dos olhos sem um pingo de economia, tanto que acabei por chamá-las de lágrimas politicamente incorretas.
Enfim, impedida de me movimentar, acabo passeando mesmo por minhas ansiedades, inquietudes e conflitos, pois uma vez decidida a trocar o jogo do contente pelo auto conhecimento, vivo meu flagelo com intensidade e resistência.
Nessa linha de pensamentos flutuantes passo da água conhecida metáfora do inconsciente, à raiva e à inveja como molas propulsoras de ação e não de mortificação...
E prossigo, uma desconfigurada máquina desejante, geradora apenas de desejos reprimidos, sublimados, esquecidos, lembrados , entre pouquíssimos por algum encanto distraído , vividos.
Atravessada por tristezas, algumas já bem conscientes, também sem condições de fuga, quero me permitir bons encontros, e tantas outras possibilidades, na eterna busca pelas “Ffelicidades”, pois somos tão belos e leves quando estamos felizes ainda que dure o instante de um curta metragem.
No desvio da nossa hipermodernidade, nossa sociedade de blogs... filmes... livros... da própria natureza e sua conexão com as reais riquezas afetivas, pessoais e profissionais, nem sei se exatamente nessa ordem (cada um tem a sua), cria um vazio que se instala em nossas almas, obviamente sem a mínima gentileza de pedir licença, mas nos dá o espaço e a oportunidade para que seja preenchido, no constante alimentar da potência criativa de que todos os seres são capazes.
Afinal se ser é ser percebido, quem deve se dar a ver em primeiro lugar somos nós a nós mesmos.
Pois como diz Clarice Lispector: “...é tão difícil mudar. Às vezes escorre sangue.”
Pessoa em Pessoa